quarta-feira, 28 de outubro de 2015

ATACAMA EM DETALHES: O GUIA COMPLETO!

O Local

O Deserto de Atacama é o mais seco (em alguns pontos não há registro de chuvas) do mundo. Ficou sem chuvas de 400 até 1971, ou seja, por mais de 1.500 anos. Em área, é o 22º maior deserto do mundo (140.000 km quadrados).  A altitude, em alguns pontos, chega a 4.800 metros. Alguns passeios, como o gêiseres el Tátio, tem temperaturas extremas (chega a 10 graus negativos) e altas altitudes (mais de 4.000 metros). A base para a exploração do deserto é a cidade de adobe San Pedro de Atacama, com três mil habitantes fixos e muitos turistas estrangeiros, notadamente brasileiros, americanos e europeus.


Atacama, um cenário lindíssimo. 

Passeios

San Pedro de Atacama: A cidade tem estilo rústico, com ruas sem calçamento (embora com pouca poeira, não chegando a ser um problema) e construções de adobe. Mas são poucas as atrações. Aliás, a primeira coisa que chama a atenção de quem visita a cidade é a quantidade de cães, a maioria enormes, que justificam até um apelido da cidade: "San Perro de Atacama". 

Uma das principais era o Museu Gustavo Le Paige, mas atualmente (outubro de 2015) encontra-se fechado. Le Paige era um padre e arqueólogo belga que colecionou, durante muitos anos, artefatos de povos atacamenhos antigos. Uma pena o espaço estar fechado, principalmente por falta de verbas. 

Museu Le Paige, fechado atualmente (outubro de 2015).

Outra atração da cidade é a pitoresca Iglesia San Pedro, com teto de cactus. É um estilo bem comum nas igrejas locais. 

A Igreja de San Pedro de Atacama. 
A rua principal da cidade é a Caracoles. Nela encontram-se agências de turismo, os principais restaurantes do povoado e mercados pequenos, para se comprar a tão imprescindível água mineral (recomenda-se tomar pelo menos três litros por dia, diante da umidade e do calor do local).  Outras ruas importantes da cidade, com restaurantes, agências e comércio também, são a Calama, a Domingos Atienza, a Toconao, a Le Paige e a Tocopilla. 



A cidade conta ainda com a "Feira Artesanal San Pedro de Atacama", em frente à praça principal. Lá é possível comprar suvenires, bonés, chapéus típicos, miniaturas e, para combater o mal da altitude, folhas e balas de coca (desnecessárias).

"Feira Artesanal San Pedro de Atacama". 
Há ainda um curioso museu, o "Museu do Meteorito" (Rua Tocopilla, 101). Meteoritos são fragmentos de asteróides,cometas ou planetas desintegrados que não se destroem completamente ao atingir a terra (ao contrário dos meteoros ou estrelas cadentes). 

Gêiseres El Tátio: O passeio mais popular de Atacama é também o melhor de todos. 

Os turistas geralmente esperam, na recepção do hotel ou hostel, às cinco da manhã, a agência que irá fazer o passeio. 

Depois, uma viagem de cerca de uma hora aos gêiseres, que são o resultado da combinação de águas subterrâneas frias com rochas quentes, que provocam os jatos de vapor e o espetáculo que todos irão assistir. 

Gêiseres El Tátio. 
Em ebulição...rsrs
Passeio El Tátio. 

Lagunas Altiplânicas e Piedras Rojas: O tour das Lagoas Altiplânicas (Chaxa, Miscanti e Munique) é o que contém a maior beleza cênica. Alia-se a ele o passeio a Piedras Rojas, local onde as fotos ficam ainda mais bonitas. 

A beleza da Laguna Miscanti, no Atacama.

A belíssima Laguna Munique. 

Salar de Atacama: O maior salar do Chile, e terceiro maior do mundo, é vendido em pacotes junto com as lagunas altiplânicas.Uma paisagem única, sem dúvida.

O Salar de Atacama. 
Socaire: Povoado pitoresco, próximo à San Pedro de Atacama. Geralmente, é visitado durante o tour das lagoas altiplânicas. Destaque para a singela igreja local.

Socaire. Igreja. Atacama, Chile.

Toconao:  Outro povoado, muito próximo à San Pedro de Atacama. Destaque para a praça principal  a igreja e a Torre, símbolo máximo do povoado. É possível avistar lhamas domesticadas no local.

A Torre, simbolo máximo de Toconao. 

Vale da Lua e Vale da Morte: É um dos passeios essenciais do Atacama.  Destaque para as incríveis paisagens rochosas, que fazem do local um dos mais interessantes para fotografias. Há um local bastante interessante, as "Três Marias", uma incomum formação rochosa.

A interessante formação rochosa "Três Marias". 
O impressionante Vale da Morte. 

Vale da Lua. 

Salar de Tara:  O passeio mais distante (133 Km de Atacama) e mais difícil, mas considerado um dos mais bonitos do Atacama. Altas altitudes, estradas ruins, recompensadas, porém, com uma belíssima paisagem natural. Destaque para os Monges de Pakana e as "Catedrais" rochosas. 

Reserva Nacional Los Flamencos: É possível avistar-se  flamingos em terras atacamenhas. Mas é preciso sorte para ver muitos deles juntos. No passeio das lagunas altiplânicas, é possível visualizá-los. São três tipos: o Andino, o James e o Chileno.

Flamingos do Atacama. 

Pukará de Quitor: Localizada a 3 quilômetros do centro de San Pedro de Atacama, a Pukara de Quitor é alcançável até por caminhada (fácil, num percurso reto). Muitos fazem o percurso de bicicleta, aproveitando ainda para conhecer outras atrações localizadas pertos desse oásis. Há ainda a possibilidade de conhecer o local a partir de tours organizados pelas agências locais ("tour arqueológico"). 

As ruínas de Quitor. 

Aldeia de Tulor:   Aldeia formada por atacamenhos entre 800 a.C e 50 d.C. É um dos sítios arqueológicos mais antigos do Chile. Formada por uma série de construções circulares, hoje bastante soterradas. 

Baños de Puritama: Localizados 30 km a noroeste de San Pedro, os "Baños" são termas de água quente localizadas em um desfiladeiro.  O nome Puritama é nome do rio local. As temperaturas da água giram em torno de 30 graus celsius, o que favorece o banho. Passeios de meio dia levam ao local. O ingresso para entrar lá é mais caro que o próprio passeio, como na Laguna Cejar. 

Vale do Arco-Íris e Petroglifos: É uma passeio até difícil de se fazer, já que não há muitos interessados e as agências pedem um mínimo de dois casais para sair até lá. Além da bela paisagem, destacam-se as gravuras em pedra feitas por povos antigos, os petróglifos. É um tour mais específico, para quem tem interesse aprofundado em história e arqueologia, segundo disseram-me os guias locais. 

Tour Arqueológico: Combina Tulor (a aldeia) e Quitor (Pukará), durando aproximadamente quatro horas. Geralmente se visita também atacamenhos, os "Likan Antai". 

Tour Astronômico (geral e do Space): Atacama é sinônimo de astronomia e astrologia, uma vez que é considerado um dos melhores lugares do mundo para se observar astros e estrelas. Além do ALMA e de outros lugares com poderosos telescópios, San Pedro oferece outros passeios turísticos de observação de astros, sendo o mais conhecido o do astrônomo francês Alain Maury (Space: www.spaceobs.com). Ele tem vários telescópios potentes (são cerca de 10); há uma introdução de cerca de uma hora (em um frio congelante), feita pela esposa do astrônomo e depois a observação. Na terceira fase, é possível conversar com o astrônomo francês sobre assuntos gerais de astronomia (no debate que participei Plutão foi bastante discutido). O "Space" só aceita pagamentos no dia, já que há possibilidade de cancelamentos sempre; no entanto, a reserva deve ser feita no dia da chegada, na Rua Caracoles perto da Domingos Atienza, uma vez que é bastante concorrido. Há tours em inglês e espanhol. Curiosidade: SPACE quer dizer "San Pedro de Atacama Celestial Explorations".

Telescópio do Space, de Alain Maury. 

ALMA (Atacama Large Milimeter/Submilimeter Array):  O ALMA é um projeto internacional de observação astrônomica e é aberto a visitas públicas. Mas deve ser marcada com bastante antecedência. Fica a 50 km de San Pedro de Atacama. Geralmente, as visitas públicas duram pouco mais de três horas, com início pela manhã. Mais informações, e marcações, podem ser encontradas no site: http://www.almaobservatory.org/en/visits/public-visits.

Machuca: Povoado, geralmente visitado quando se vai ao Gêiseres del Tátio. É possível comer por ali carne de "Lhama", que achei um pouco enjoativa - comi um churrasquinho.

Laguna Cejar/Ojos del Salar/Laguna Tebinquinche: O passeio não é tão interessante. A mais bonita paisagem é da Laguna Tebinquinche. Geralmente ali é que se vê o por do sol. Vale destacar três detalhes aqui em relação à Laguna Cejar, famosa por permitir que as pessoas boiem: primeiro, não é na Cejar que as pessoas boiam, mas numa lagoa anexa; segundo, o alto teor de sal custa a sair do corpo; terceiro, o ingresso para entrar na laguna é mais caro que o próprio passeio.

Calama: As agências de San Pedro de Atacama não oferecem passeios nas proximidades de Calama. As atrações principais, próximas à cidade mineradora, são Chiu-Chiu (e sua "Iglesia de San Francisco), a mina de Chuquicamata (cobre) e a Pukará de Lasana (fundada por atacamenhos e dominada por dois séculos pelos Incas).  

Quebrada de Jerez: Passeio menor do Atacama. Um oásis no meio do deserto.

Subidas em vulcões: É um passeio oferecido por algumas agências locais. As altitudes superam 5.000 metros, exigindo, portanto, bom preparo físico. O Licancabur é um dos mais próximos da aldeia de San Pedro e mede 5.917 metros. Outro bastante conhecido é o Lascar, também próximo a San Pedro.  O mais oferecido pelas agências locais, talvez por ser mais fácil (se é que é possível se falar em facilidade em grandes alturas e ar mais rarefeito) que os demais, é o Toco.


Os vulcões e suas altitudes. 
Passeios para a Bolívia: Várias agências oferecem passeios de três noites para o Salar de Uyuni, na Bolívia. O difícil é saber a qualidade dos serviços oferecidos. 

As agências (Operadoras)

San Pedro de Atacama possui inúmeras agências nas ruas do seu centro, principalmente na Caracoles. Aqui vale a máxima: o preço está de acordo com a qualidade do serviço. Pagando-se bem, o viajante tem a sua disposição motorista e guia, van com ar-condicionado e em bom estado de conservação. Pagando-se mal (ou seja, barato), as condições pioram bastante: vans superlotadas, sem ar-condicionado, com pneus em precário estado de conservação, sem guia (somente com o motorista).

Em San Pedro testamos os dois tipos de serviço. Nos principais passeios (Gêiseres, Lagunas Altiplânicas, Pedras Rojas, Vales da Lua e da Morte), escolhemos a Cosmo Andino (Rua Caracoles), que apresentou um bom serviço, com guias altamente experientes (fluentes em inglês e espanhol) e com excelente conteúdo informativo (um deles apresentava inclusive fotos dos animais e atrações da região em tablet). As vans eram muito confortáveis. Outras agências, indicadas, pelo guia Lonely Planet, são a Desert Adventure e a Terra Extreme - constatamos que ambas também possuem transportes próprios e, se estão indicadas, é sinal de que são confiáveis. A Grado 10 tem também transporte próprio - um caminhão de lixo transformado em caminhão turístico - mas me parece ser muito desconfortável o passeio, mas já li relatos contrários, afirmando ser uma boa opção.

Por outro lado, as outras agências, menores e que cobram mais barato, apresentam serviço deficiente, conforme já ressaltado linhas atrás. Fizemos um dos passeios com uma delas e testamos. É realmente difícil. Geralmente eles terceirizam os serviços - contratam motoristas que tem vans próprias. Ou seja, não há guia, apenas o motorista que é dono da van. O próprio motorista, um chileno que é formado em engenharia civil mas preferiu dirigir no deserto, afirmou: "prefiro os latinos; os gringos europeus geralmente reclamam demais do serviço que eu presto e já teve até caso de gringo chamar a polícia para que eu devolvesse o dinheiro".  Isso resume bem o espírito da coisa: a economia sai caro. Os europeus e asiáticos preferem as agências maiores e mais confiáveis; brasileiros que fazem turismo por ali tendem a pagar mais barato, na sua maioria.

Como chegar

É bastante tranquilo de se chegar ao Atacama a partir de Santiago. O voo, feito por duas companhias aéreas (Lan e Sky) dura cerca de duas horas até o aeroporto de Calama. Calama fica a 106 kms de distância de San Pedro de Atacama, a cidade base para se conhecer as belíssimas paisagens do deserto mais árido do mundo.  Várias empresas fazem o traslado Aeroporto de Calama - San Pedro de Atacama, que dura uma hora e meia. É possível comprar ida e volta na "Licancabur", a principal empresa de traslado, por 20.000 pesos. Apenas um braço (só ida, por exemplo), fica mais caro.  É um serviço eficiente. 

Quando ir

O Atacama tem sol o ano todo. Em fevereiro, é maior a probabilidade de chuva. Março costuma ser apontado como o melhor mês para se visitar o deserto mais árido e bonito do mundo. Setembro e outubro surgem como boas opções também (é nessa época que estive por lá e posso atestar que é muito bom). 

Hospedagens

Em São Pedro de Atacama predomina o estilo "rústico", que pode ser "chique", "mediano" ou "simples". 

No estilo chique, destacam-se alguns hotéis, muitos deles com pacote de passeios incluídos, carros à disposição, entre outros mimos. Nessa categoria estão o "Tierra Atacama", o "Alto Atacama", o "Awasi" e o "Cumbres". Geralmente estão longe do centro da cidade, cuja maior movimento ocorre na rua Caracoles. 

No quesito mediano, o "Altiplânico" desponta. Tem uma boa estrutura e fica relativamente perto do centro - são dez minutos a pé. Ocorre que a rua que leva ao centro, apesar de reta, é escura à noite, com vários pontos cegos. Deve-se levar lanterna.

No mais, a cidade conta com albergues (hostels, ou "hostal"), que significam hospedagem econômica e nem sempre confortável. 

Onde Comer

San Pedro de Atacama, embora seja um pequeno vilarejo, conta com inúmeros restaurantes. A maioria se concentra no centro, cujo local mais visitado é a principal Rua Caracoles. Dentre os locais mais conhecidos da rua principal, destacam-se: "Adobe", com pratos mais elaborados; "Delícias del Carmen", com muita fartura e preço razoável (pedir um prato para duas pessoas, é mais que suficiente); "La Casona" (bom custo-benefício); "Blanco" (bom custo-benefício) e "La Estaka", um dos mais frequentados e considerado mais caro. Há, ainda, na mesma rua, uma pizzaria, a "Casa de Piedra"

Advertência

Para aqueles que gostam de aventura em níveis absurdos, uma dica: cuidado com os tours oferecidos em San Pedro de Atacama para o Salar de Uyuni e arredores na Bolívia. Além de ser um lugar inóspito, ou seja, sujeito a intempéries (por exemplo, atolamentos em estradas de terra e no próprio salar), ainda temos relatos consistentes de sequestros de turistas na região.  Para mais informações, vale ler reportagem do "Viaje na Viagem"  aqui,