quinta-feira, 28 de julho de 2016

MACHU PICCHU, A ESPETACULAR CIDADE INCA!

A América do Sul tem lugares muito especiais. Mas um deles impressiona pela beleza cênica, pela conservação e pelo ambiente cultural envolvido: é Machu Picchu, a cidade perdida, sagrada e intocada dos incas, situada a noroeste de Cusco, no distrito de Machu Picchu, na Província de Urubamba, no Departamento de Cusco, no Peru. 

Machu Picchu, enevoada cidade perdida dos incas.

Ruínas bem preservadas de Machu Picchu.

Os visitantes na cidade perdida dos incas.

A espetacular cidade perdida dos incas em toda a sua beleza e esplendor.

Para se chegar até lá, duas opções: ir de trem (fomos a partir de Ollantaytambo, em uma viagem que durou cerca de uma hora e meia até o pueblo de Machu Picchu; há ainda saídas de Poroy, nas proximidades de Cusco e de Urubamba) ou por caminhadas, nas famosas trilhas (Inca Clássica, Inca Curta, Salcantay). De trem há várias opções, entre elas os das companhias Peru Rail (Vistadome ou Expedition),  Inca Rail e Orient Express (o luxuoso Hiran Bingham).

O trem da Inca Rail que leva à Machu Picchu, a partir da estação de Ollantaytambo.

É importante pernoitar no povoado "Macho Picchu" ou "Águas Calientes"  e, a partir dele, pegar logo cedo os ônibus que farão o percurso. Uma fila enorme espera o turista que, no entanto, é bem rápida para o tamanho - demora cerca de vinte minutos. O percurso do ônibus para Machu Picchu, cheio de curvas e de um natureza exuberante, sempre mirando o alto,  demora mais de vinte minutos.2.500 pessoas são aceitas por dia no parque (limite que exige que haja reserva em altíssimas temporadas, de junho a agosto).

Os pequenos ônibus que levam à Machu Picchu, a partir do povoado (pueblo).

Chegando em Machu Picchu, sítio arqueológico que fica a 2.350 metros de altura,  é impossível não se impressionar com tanta beleza e com tanta preservação. É inevitável  perguntar: como conseguiram os incas trazer tantas pedras tão gigantescas e colocá-las de uma maneira tão precisa e uniforme? 

O bom dessa história toda de Machu Picchu é que os conquistadores espanhóis (leia-se Pizarro e seus asseclas) não chegaram por ali. Ou seja, a cidade ficou intocada até ser mostrada ao mundo por Hiran Bingham (1875-1956) em 1911, um explorador que foi líder da  "Expedição Científica Peruana de Yale".  Esse intrépido homem encontrou um agricultor local que já havia visto as ruínas, chamado Melchor Arteaga. Um sol (sol é a moeda peruana) foi o valor pago por Bingham para Arteaga lhe mostrar o local, cheio de árvores e plantas sobre ruínas, que viria a ser a principal atração turística do Peru e um dos dez lugares mais famosos do mundo. Era o despertar de Machu Picchu para o mundo.

Bingham homenageado na entrada do parque por ocasião do cinquentenário de sua expedição.
Em 1912, Bingham voltou por lá (como não voltar, não é mesmo? Até para quem já viu Machu Picchu a vontade de voltar é enorme!).  Depois de limpar a densa vegetação que cobria o local e fazer muitas escavações,  os exploradores encontraram uma grande quantidade de objetos, tais como objetos metálicos em cobre, bronze e prata, peças de cerâmica, objetos de pedra, objetos de madeira, micro esculturas, objetos em construção, caroços de pêssego e osso de boi.  Foram também encontradas 107 tumbas com restos mortais de 173 indivíduos, com uma série de oferendas (adornos de prata, cobre, restos de lhamas, cachorros e porquinhos da índia ou cuys, entre outras).

Formidável e espetacular são adjetivos insuficientes para explicar o que é Machu Picchu. A cidade dos incas é muito mais que isso. É a síntese do esplendor de uma cultura caracterizada por avanços significativos na astronomia,  na agricultura e na engenharia. É o lugar com a ruína mais espetacular e sublime que existe na Terra - o "Templo do Sol".

Divergem os historiadores e exploradores acerca das funções da cidade de Machu Picchu.  A maioria dos estudiosos considera que foi uma importante cidade multifuncional inca (llaqta), com um núcleo mágico-religioso e lugar de observação solar, dadas as inúmeras construções para esse fim específico.

Como era Machu Picchu.  Foto: in "Presentando el Perú y Machupicchu", de Saydi Romero.

Machu Picchu foi construída durante o apogeu do império inca (século XV), com as obras iniciadas durante a gestão de Pachacutec. O lugar onde está construída a cidade é resultado de um colapso originado por duas falhas geológicas: a de "Machupicchu" e a de "Huayanapicchu".  Esses picos, aliás, tinham uma representatividade enorme para os incas: os ancestrais dos peruanos acreditavam que os dois picos formavam um casal divino, chamado "Yanatin", uma representação sociorreligiosa emergindo da terra. Ou seja, a geografia de Machu Picchu, para os incas, tinha caráter sacro. Tudo ali evocava representações divinas e símbolos de adoração, como o puma, a serpente e o condor.


Machu Picchu, o pico.
Huayna Picchu (a "Montanha Jovem"), o pico, ao fundo.

Dentre os muitos destaques da cidade, além do "Templo do Sol",  vale lembrar a Cabana do Guardião, a Intihuatana (pedra, uma espécie de relógio de sol), a Praça Sagrada, os outros Templos (o das Três Janelas e o do Condor), as Fontes, o Setor Real, as Rochas (Funerária e Sagrada) e o Bairro Comum.

A distribuição do espaço de Machu Picchu indica hoje, basicamente, dois setores: o urbano e o agrícola.

No setor urbano há a concentração da maioria das atrações do parque. 

"La Portada", ou o "Portal", é o primeiro acesso da cidade sagrada dos incas. 

La Portada.

O "Templo do Sol", belíssima ruína inca, foi um observatório astronômico no tempo inca. A janela apontada em direção ao oeste permite a observação do solstício de inverno, aquele que acontece no dia 21 de junho. A cada dia 21 de junho o primeiro raio de sol ingressa diretamente por esta janela e projeta a luz sobre a rocha. Através da mesma janela, na madrugada, durante os dias do solstício de inverno, é possível observar a constelação das plêiades (aglomerado de estrelas azuis, também chamadas de "sete estrelos" e "sete cabrinhas"). 

No mesmo complexo do Templo do Sol, mais abaixo, há ainda outro destaque: a "Tumba Real" (ou "Templo da Mãe Terra", ou ainda "Templo Pachamama"), com três degraus que representam os três animais sagrados dos incas: a cobra (mundo das trevas); o puma (que representa o presente); e o condor (representativo do mundo celestial). É, como diz o nome, uma reverência à "Pachamama", a mãe terra, tão adorada pelos incas.



O Templo do Sol, em Machu Picchu.
O abastecimento de água na cidade sagrada era feito por 16 fontes. São obras de pura maestria inca: todas as fontes estão conectadas por canais definitivos, desenhados com extraordinária precisão, para que a água fluisse com pouca filtração e de maneira controlada.

A Praça Sagrada, por sua vez, era um espaço onde se realizavam cerimônias especiais. Para o explorador Bingham, a Praça Sagrada é constituída do Templo Principal, da Sacristia, da Casa do Alto Sacerdote, do Templo da Três Janelas e da Intihuatana. Destaque para a Sacristia, que tem duas rochas ladeando a entrada, uma das quais com 32 ângulos.

Uma visão da Praça Sagrada de Machu Picchu.

A "Intihuatana" é uma pedra que indica precisamente as datas dos solstícios e equinócios, além de outros períodos astronômicos importantes. É um dos maiores símbolos de Machu Picchu.  O nome quer dizer "poste de amarrar o sol", já que os incas afirmavam que o sol ficava preso na rocha, durante o solstício de junho (dia do inverno, 21 de junho), o dia mais importante do ano para eles.

Intihuatana, em Machu Picchu.


A "Rocha Sagrada" imita a forma de uma montanha. Era usada pelos incas como altar, para reverenciar os "Apus" (deuses da montanha, da água e da fertilidade). Vale dizer que antropólogos consideram que a rocha espelha a "Pumasillo" (garra do puma), situada na cordilheira Vilcabamba. 

A imponente "Rocha Sagrada".

Dois outros templos ainda valem a visita em Machu Picchu: o do "Condor" e o das "Três Janelas". 

O "Templo do Condor" , segundo a maioria dos historiadores, era o local onde as múmias incas eram colocadas durante as cerimônias em homenagem ao condor, uma das divindades incas. 

Templo do Condor.
O "Templo das Três Janelas", por sua vez, era também dedicado à "Pachamama". Em 21 de junho, solstício de inverno, raios solares ingressam pelas três janelas, originando uma projeção de sombras simétricas. Arqueólogos encontraram debaixo das janelas grande quantidade de restos de cerâmicas decoradas. 


Outro ponto bastante interessante de Machu Picchu é a "Sala dos Espelhos Astronômicos" (ou "Los Morteros"). As pedras nesse local, espelhos d´água, talhadas em forma circular, tem quase o mesmo diâmetro e possuíam funções astronômicas.  Assim, o que está apontando em direção ao norte servia para observar os equinócios (momentos que marcam o início da primavera ou do outono)  e o outro espelho para detectar o solstício de inverno.

Sala dos Espelhos Astronômicos, os "Espejos de Água" de Machu Picchu.
 


O sol refletindo no espelho d´água.

O setor agrícola inclui a "Cabana do Guardião", a "Rocha dos Sacrifícios" (ou "Rocha Funerária") e os terrenos agrícolas.  

A Cabana do Guardião, como o próprio nome entrega, era um lugar de vigilância da cidade. Por ser o ponto mais alto, era possível que o guardião vigiasse todos os pontos de acesso à cidade. O bom de se observar a cabana é que ela é uma ideia perfeita de como eram as casas do complexo de Machu Picchu. Ou seja, como era a cidade sagrada se não estivesse só em ruínas como hoje.

A "Cabana do Guardião".


A "Rocha dos Sacrifícios" ou "Rocha Funerária" , perto da "Cabana", era um altar para sacrifícios, inclusive de animais como lhamas. Bingham achava que era, na verdade, uma laje mortuária, na qual os imperadores eram colocados para serem mumificados.

Por sua vez, os terrenos agrícolas compõem o visual da cidade sagrada de maneira belíssima. Desenhados para aclimatar espécies tropicais em grandes altitudes e também para suportar chuvas intensas, os terrenos agrícolas serviam para o cultivo de coca, quinua, batatas, plantas medicinais, entre outras.





É possível subir na "Montanha Jovem" ("Huayana Picchu"), mas é bom que se diga que se trata de uma caminhada "quase vertical de tirar o fôlego em mais de um sentido", nas palavras de Patrícia Schultz, do famoso guia "1000 Lugares para Conhecer Antes de Morrer".  Pelo que já vi nas fotos tiradas de lá, não acho que vale a pena - há ângulos melhores para se apreciar a cidade perdida dos incas. Mas há quem goste. Não é, portanto, aconselhável para pessoas com dificuldades de locomoção em geral.



Aqui inicia-se a subida para Huayna Picchu, a Montanha Jovem.
Há ainda duas outras caminhadas no sítio arqueológico: a que vai para a Ponte Inca, que demora uma hora (ida e volta); e a que vai a Inti Punku, com muitos lugares usados para cerimônias incas e de onde é possível observar outra perspectiva da cidade perdida (dura duas horas).

Enfim, a cidade sagrada e perdida dos incas, patrimônio mundial pela UNESCO desde 1983, é uma dos sítios arqueológicos mais impressionantes do mundo. Sem dúvida, um lugar para se conhecer antes de morrer.

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