domingo, 10 de julho de 2016

O IMPRESSIONANTE IMPÉRIO INCA - UMA VIAGEM AO PERU!

Poucos países tem uma herança cultural tão significativa quanto o Peru. São várias as civilizações que fizeram desse país um verdadeiro caldeirão cultural. Civilizações que fizeram com que o povo atual ainda mantenha uma rica e preciosa forma de viver com base nas tradições.  Pela ordem cronológica (da civilização mais antiga para a mais recente), temos: Caral, Chavin, Paracas, Mochica, Nazca, Wari, Chimu/Lambayeque e Incas. 

De todas as civilizações que influenciaram o que é o Peru atual, destaca-se a inca. 

A base da civilização inca foi Cusco (naquele tempo se chamava Qosqo).  A cidade, hoje a sétima mais populosa do Peru, localiza-se a sudeste do "Vale Sagrado dos Incas". Em quéchua, a língua de treze dos trinta e um milhões de habitantes do Peru, o nome da cidade significa "Umbigo do Mundo". Nada mais apropriado para uma cidade que foi e continua sendo tão importante em termos estratégicos, econômicos e culturais.. 

Cusco, a capital do império inca. Foto: Carlos HB/EP

Aqui vale trazer uma curiosidade: embora falemos em "incas", "império inca" e "civilização inca", a palavra "inca" não era nos primórdios designativa do povo, mas tão somente dos imperadores. A esses líderes, chamados "filhos do sol", é que era dado o título de "inca". Mas, é importante dizer:  falar em império inca nos dias atuais, como uma palavra que designa todo aquele povo, está correto. E adotaremos no blog o consagrado nome.

A divisão social dessa magnífica civilização era assim: realeza (Inka, Qoya - esposa do inka; Panaka - família real); nobreza (elite cusquena ou nobres de sangue; nobres de privilégio); e o povo (tributarios, hatunruna e yanakunas ou servos da realeza).

in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de Saydi Maria Negron Ribeiro

Rei Inka e Rainha Qoya. Vestimentas. in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de S. Romero
Vestimenta do homem. in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de Saydi Romero.
Vestimenta da mulher. in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de Saydi Romero.
A civilização inca, historicamente falando (é preciso dizer que existiram reis lendários, em um período que começa em 1.200 d.C), desenvolveu-se de 1438 d.C (ano do primeiro rei histórico, Pachacutec) a 1.532 d.C (ano da conquista espanhola). É a fase de expansão do império inca e aqui adotada como o período de esplendor e de independência da civilização inca.  A origem desse povo é contada, em grande parte, por mitos e lendas.  Muitos dos imperadores incas, na verdade, são lendas. Mas dois deles merecem uma menção especial: Pachacutec (o nono e o primeiro rei histórico) e Atahualpa (o décimo-terceiro, considerando os reis lendários e último dos reis históricos). Esses foram reais (no sentido de existência verdadeira) e deixaram marcas profundas com sua liderança. 
in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de Saydi Maria Negron Ribeiro

Merecem destaque em nossa exposição do soberbo império pré-colombiano a organização social e administrativa do Império Inca.

A organização política do império andino tinha como objetivo o bom funcionamento do Estado e melhorar a produção de alimentos.

A máxima autoridade política, conforme já falamos anteriormente, era o Inka, cujo centro de suas operações era Cusco. A ele competia dar segurança e bem-estar ao povo, enquanto o povo, em reciprocidade, dava tabalho, obediência e fidelidade ao "Filho do Sol".

Havia o Auki, ou príncipe herdeiro, cuja função era demonstrar sua habilidade para ser o futuro governante.

O Conselho Imperial, ou Tawantinsuyo Kamachiq, era a assessoria mais importante do Inka.

O Representante do Inka, ou Apunchinq, por sua vez, tinha atribuições política e militares e era uma espécie de governador de determinada região.

O Supervisor, ou Toqrikoq ou Tukuy Rikuq, era responsável por aspectos civis e públicos, como celebrar matrimônios, recolher tributos, impor castigos e resolver conflitos.Cumpria as ordenanças de determinada região, em conjunto com o Apuenchinq.

E, por fim, o Chefe, ou Kuraka, responsável por um grupo étnico ou Ayllu. Tinha a obrigação de organizar o povo e servir de nexo entre este e o Estado.

Ou seja, uma organização política bastante interessante e evoluída, assim discriminada:

Estrutura organizacional inca. in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de Saydi Romero.

A organização administrativa, por sua vez, era bastante curiosa. Trata-se da administração de base decimal. Nessa interessante disposição, os homens ou hatun runas eram divididos em grupos de dez, cem, mil e dez mil chefes de família. O chefe de família era chamado de Pureq.

A educação formal, entre os incas, era somente para membros da elite (akllawasi, para as mulheres e a Yachaywasi, para os varões).  Para o povo, havia a educação prática.

No mundo pré-colombiano, vale dizer, as mulheres tinha papel de protagonistas e eram fundamentais em todos os momentos da cultura andina. A presença era muito necessária e complementar ao rol dos homens (princípio de yanantin). Nesse sentido, participavam ativamente do governo e tinham muitos postos hierárquicos.

Os incas não tinham textos escritos. Mas a comunicação era feita com outros elementos, que continham variadas informações como o ábaco, os khipus, os tokapus e as qhelqas.

O idioma oficial era o quechua, ou runa simi.

Geograficamente, é importante destacar, o império inca alcançou notável tamanho: corresponde ao que é hoje parte dos seguintes países, de cima para baixo no mapa: Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina. Seis países. Uma extensão territorial de 1.800.000 quilômetros quadrados, o que seria 35 por cento maior que o território peruano atual (que é o 19º maior do mundo hoje).

O império dos incas em amarelo. América do Sul. Foto: Carlos HB/EP

O sistema econômico inca era baseado fortemente na reciprocidade (no sentido de cooperação) e na redistribuição dos excedentes de alimentos. O sistema tinha um viés parecido com o socialismo, com a sua característica mais básica, o planejamento centralizado pelo Estado.

O trabalho era considerado uma obrigação. O ócio era punido como crime pelo Estado Inca. Havia três formas de trabalho: ayni (ajuda entre membros os membros de uma comunidade familiar);  mink´a (trabalho em benefício comum da comunidade); e mita (trabalho obrigatório em benefício do Estado).  

A civilização inca, vale dizer, foi, por excelência, uma sociedade agrária. A topografia irregular, as ameaças da natureza e os terrenos escassos para cultivo obrigaram os incas a desenvolverem diversos recursos tecnológicos, tais como: "pata pata" (construções multifuncionnais, terras de cultivos em várias camadas); hoyas (escavações feitas em zonas áridas, até alcançar lugares húmidos do subsolo para cultivos);  e o waru waru (sistema de manejo do solo e da água, em planícies pantanosas e inundadas, que cria um efeito térmico que protege os cultivos de geadas, além de otimizar a qualidade do solo). As ilustrações abaixo, extraídas do excelente livro "Presentando el Perú y Machupicchu", de Saydi Romero, mostram os detalhes dos cultivos:

O sistema agrícola "pata pata". in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de S.Romero.
 

Hoyas (acima) e Waru Waru (abaixo). in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de S.Romero.

Impressiona bastante também na cultura inca a engenharia e a arquitetura. Como seria possível carregar tantas pedras enormes em terrenos tão altos e difíceis? É a pergunta que todos que visitam as ruínas incas fazem. Foram construídos naquela época diversos caminhos, pontes, depósitos, armazéns nas montanhas (!), embarcações, templos e cidades.

As técnicas de construção eram impressionantes. O objetivo dos arquitetos e engenheiros incas era harmonizar as suas obras e a natureza, uma preocupação em uma época que não havia tantas questões ambientais afetando o nosso planeta. 

Como materiais de construção, os incas utlizaram basicamente pedras, sendo as mais comuns o granito, o basalto, o calcário, entre outras. Utilizam também terra (adobe), madeira e fibras vegetais.

Utilizando-se de pedras, o mais difícil era justamente o transporte delas. Em boa parte dos casos, utilizavam-se de força humana (vários homens dependendo do tamanho da pedra); em outros, utilizavam-se de carrinhos, construíam rampas, entre outros mecanismos.

As enormes pedras que os incas carregavam em seus sítios. Foto: Carlos HB/EP

Técnica de transporte de pedras dos incas. in: "Presentando el Perú y Machupicchu", ob.citada

 
in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de S.Romero.



in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de S.Romero.

Por fim, algumas curiosidades e fatos interessantes merecem nossa atenção. 

O primeiro deles, vale destacar, é a famosa "trilogia andina", que são os três animais sagrados dos Incas: a serpente (ou "amaru"); o puma; e o condor (ou "kuntur"). Segundo a visão andina, as pessoas deveriam possuir as características de cada um desses animais. 

A serpente, símbolo da água, era representada com uma ou duas cabeças. Identifica-se com um raio e ela que anuncia a chegada da água ("Yakumama").  

O puma, por sua vez, representa a fortaleza, o poder, o valor, o sigilo e a destreza. A cidade de Cusco tem a forma de um puma. 


Cusco, a cidade em forma de puma. in: "Presentando el Perú y Machupicchu", de S.Romero.

O condor, por fim, é uma divindade que representa sensatez e sabedoria, sendo também o mensageiro dos deuses.

A folha de coca, ainda hoje muito utilizada em países andinos como o Peru, era consumida, durante o império inca, somente pela elite. 

Outra informação de interesse é que o território inca foi dividido em quatro "suyos" (regiões), cujo nome geral era "Tawantinsuyo", com um puro conceito de demarcação e cujo centro era Cusco. São quatro os suyos: Qollasuyo, Antisuyo, Kuntisuyo e Chinchaysuyo.

A "Festa do Sol", ou "Inty Raimi", era a principal comemoração inca, em homenagem ao rei sol.  Celebrada no solstício de inverno (21 de junho), consistia no sacrífico da lhama, o acendimento do fogo sagrado e a consagração de diferentes oferendas. Hoje ainda se celebra tal festa em Cusco, embora seja em data diferente: 24 de junho. O local de celebração é Saqsaywaman, a "real casa do sol", nas proximidades de Cusco.

E, por fim, importante trazer à baila algumas causas da derrocada do império inca frente aos espanhóis: disputa do trono entre Atawallpa e Waskar, o que gerou instabilidade da qual se aproveitaram os espanhóis; grupos étnicos que foram dominados pelos incas aproveitaram a chegada dos espanhóis e se uniram a eles; a propagação de doenças que afetou grande parte da população andina; e a experiência dos conquistadores em combates armados.
 
A visita ao que restou do império inca, nos dias atuais, para ser completa, deve abranger o Vale Sagrado (e suas estrelas Ollantaytambo, Pisac, Moray e Salinas de Maras) e Machu Picchu (um sítio arqueológico espetacular). Machu Picchu, aliás, é patrimônio mundial pela UNESCO desde 1983, constituindo-se na mais preservada ruína inca que se tem notícia. E está preservada justamente pelo fato de que os espanhóis não estiveram por ali. Posts detalhados mostrarão cada um destes maravilhosos locais.

A espetacular cidade inca Machu Picchu, no Peru.


Machu Picchu (pico), ao fundo, e as famosas construções de pedra dos incas.

Enfim, o império inca, que dominou vasta região da América do Sul nos séculos XV e XVI, é uma das mais fascinantes culturas históricas do mundo. Uma cultura que influenciou e ainda influencia uma parcela significativa da população peruana, sobretudo em Cusco. Uma história extraordinária. 

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